PARIS 2024 - Equipe mista do Brasil é bronze nos Jogos Olímpicos e conquista medalha inédita
Time brasileiro bateu Cazaquistão, caiu para Alemanha, mas recuperou-se contra a Sérvia e garantiu o bronze em confronto com a Itália, neste sábado (03)
Depois de conquistar três medalhas na competição olímpica individual, em Paris 2024, os judocas do Brasil voltaram ao tatame da Arena Champ-de-Mars, neste sábado (03), buscando o último objetivo do ciclo: garantir a inédita medalha olímpica por equipes mistas. E ele foi alcançado. Em combate emocionante contra a Itália, a equipe foi medalhista de bronze e fechou, oficialmente, a melhor campanha do judô brasileiro em Jogos Olímpicos.
Escalado com Rafaela Silva (57kg), Larissa Pimenta (57kg), Ketleyn Quadros (70kg), Beatriz Souza (+70kg), Willian Lima (73kg), Daniel Cargnin (73kg), Guilherme Schimidt (90kg), Rafael Macedo (90kg), Léo Gonçalves (+90kg) e Rafael Silva “Baby” (+90kg), o time brasileiro foi bem nas eliminatórias e chegou à sua primeira disputa de bronze olímpica por equipes, que teve estreia no programa olímpico de Tóquio 2020.
Primeiro, bateu o Cazaquistão por 4 a 2 e classificou-se às quartas-de-final, onde parou na equipe da Alemanha, em confronto definido na luta de desempate (4 a 3). Mas, na repescagem, recuperou-se com autoridade e bateu a Sérvia por 4 a 1 para chegar à disputa do bronze, onde enfrentou a Itália, que perdeu para o Japão na semifinal.
"Quando a gente estava fazendo a preparação, a gente viu o quanto todo mundo queria, o quanto essa medalha inédita era importante para o judô brasileiro, para o nosso legado. Tem gente que está na primeira Olimpíada, tem gente que está na última e a gente sabia o quão especial seria essa medalha. Então a gente ia jantar, ia almoçar e fazendo estratégia, quem pode cruzar com quem, "dá pra gente chegar nessa medalha", então a gente acreditou até o final", disse Rafaela.
Brasil 4 x 2 Cazaquistão
No primeiro confronto, a equipe brasileira enfrentou o time do Cazaquistão, em rodada válida pelas oitavas de final do torneio olímpico.
Rafaela Silva (57kg) abriu a disputa com amplo domínio sobre a cazaque Abiba Abuzhakinova, que é da categoria até 48kg, mas “forçou” na 57kg para a equipe. Rafa marcou waza-ari e, em seguida, anotou o segundo para vencer por ippon.
Na segunda luta, Daniel Cargnin (73kg) abriu um waza-ari de vantagem sobre Daniyar Shamshayev. Mas, ao tentar uma entrada por baixo, foi projetado de costas ao chão e perdeu por ippon para o cazaque.
Ketleyn Quadros, que é 63kg e teve que lutar a equipe no 70kg, pelo fato do Brasil não classificar ninguém nesta categoria, fez bonito ao projetar Smigol Kuyulova duas vezes (waza-ari-awasete-ippon) e vencer a luta. Brasil 2 x 1 Cazaquistão.
Rafael Macedo (90kg) entrou para o terceiro combate e, por um detalhe, não levou a vitória. Ele marcou um waza-ari, mas acabou sofrendo a virada no ippon de Abilaykhan Zhubanzar.
Coube aos pesados definirem o placar e Bia e Léo não deram chances aos adversários. A campeã olímpica projetou Kamilla Berlikash por waza-ari, enquanto Leonardo venceu Nurlykhan Sharkhan, jogando para waza-ari e finalizando com chave de braço. Brasil 4 x 2 Cazaquistão.
Brasil 3 x 4 Alemanha - Quartas-de-final
Nas quartas-de-final, a equipe brasileira foi superada pelo time da Alemanha em duelo definido na luta extra de desempate.
Os alemães começaram com vitórias de Igor Wandtke sobre Daniel Cargnin (73kg) e de Miriam Butkereit (70kg), vice-campeã olímpica em Paris, sobre Ketleyn Quadros.
Rafael Macedo (90kg) descontou para o Brasil, vencendo Eduard Trippel de virada, por ippon, e Bia Souza (+70kg) bateu Renee Lucht por waza-ari, para empatar.
No pesado, a seleção manteve a estratégia de poupar Rafael Silva, que competiu um dia antes, e escalou o meio-pesado Léo Gonçalves. A Alemanha veio com seu pesado, Erik Abramov, que levou a melhor sobre o brasileiro e venceu por ippon.
A campeã olímpica Rafaela Silva veio ao tatame com a missão de manter o Brasil no duelo e não decepcionou. Jogou Pauline Starke duas vezes e empatou o placar em 3 a 3.
Para a luta de desempate, o sorteio recolocou Abramov e Léo de volta ao tatame e o alemão, mais uma vez, foi melhor, jogando o Brasil para a repescagem.
Brasil 4 x 1 Sérvia - Repescagem
Depois de repetir as escalações nas duas primeiras rodadas, o Brasil mudou o time para a repescagem, trazendo sangue novo com Rafael Silva “Baby” no lugar de Léo Gonçalves e Willian Lima, vice-campeão olímpico do 66kg, no lugar de Daniel Cargnin, no 73kg.
O confronto começou melhor para o Brasil, que abriu um a zero com vitória de Ketleyn Quadros (70kg) sobre Marica Perisic por ippon (waza-ari-awasete-ippon). Perisic é do 57kg e Ketleyn do 63kg, mas “forçaram” no 70kg para a equipe. Em seguida, Macedo venceu Nemanja Majdov, na tática, forçando três punições.
A Sérvia descontou com Milica Zabic projetando Bia Souza por ippon. No dia anterior, Bia deixou o tatame da Arena Champ de Mars por volta das 19h, depois de quatro lutas intensas pelo título olímpico. Neste sábado, 03, já estava de volta à arena às 7h da manhã para a competição por equipes mistas, que começou às 8h (horário de Paris). Por isso, a brasileira demonstrou certo desgaste físico, natural no dia seguinte à maior competição de sua vida.
Mas a derrota da campeã olímpica não abalou o time, que definiu a disputa com vitórias de Rafael Silva sobre Aleksander Kukolj, nas punições, e o ippon de Rafaela Silva sobre Milica Nikolic, que colocou o Brasil na disputa do bronze.
Brasil x Itália - Bronze
No confronto decisivo, o Brasil saiu na frente com vitória por ippon de Rafael Macedo (90kg) e ampliou com dois waza-ari de Beatriz Souza (+70kg). Em seguida, Genaro Pinelli diminuiu para a Itália, em combate intenso com Leonardo Gonçalves (+90kg), decidido com um waza-ari em quase cinco minutos de golden score.
O Brasil voltou a abrir o placar (3-1), com vitória de Rafaela Silva (57kg) por ippon sobre Veronica Toniolo, mas, viu tudo ser igualado por vitórias de Manuel Lombardo, sobre Willian Lima (73kg), por waza-ari, e de Savita Russo em Ketleyn Quadros (70kg), por ippon.
Empatado em 3x3, o confronto precisou ir para o sorteio de desempate. E ele colocou Rafaela Silva novamente no tatame. A brasileira entrou ligada e, já na primeira entrada em Toniolo, marcou o waza-ari em Toniolo. Bronze para o Brasil e medalha inédita.
“Extremamente feliz, lutar em equipe é algo totalmente diferente, é um sentimento único, é um momento que um se entrega ali pelo outro. Acho que o judô é o esporte individual mais coletivo que existe. É incrível sentir essa energia, ver que a gente está dando o corpo, alma e espírito ali em cima do tatame um pelo outro pra trazer a medalha. O resultado veio, não tem como não ficar extremamente feliz com isso e ainda mais levar duas medalhas olímpicas pra casa. É mais do que um sonho realizado”, disse a campeã olímpica Beatriz Souza.
No individual, além do ouro de Bia (+78kg), o Brasil teve ainda a prata de Willian Lima (66kg) e o bronze de Larissa Pimenta (52kg), que resultaram na melhor campanha da história do judô brasileiro nos Jogos Olímpicos.
“Eu amo o que eu faço, eu amo o judô. É uma lição de vida, uma filosofia, são quase 30 anos dedicados ao esporte. Nós temos a sorte de conviver com nossos ídolos, eles andam com a gente. Essa força nos transforma em um. Essa disputa por equipes é muito boa porque reúne a história, a garra de cada um. A gente vê a Bia saindo mancando ali da luta e dando tudo. A gente vê altos e baixos, um foi melhor numa rodada, o outro nem tanto, mas estamos juntos. Então, sair daqui com essa medalha é a realização de um sonho. A sensação que eu tenho é que depois da tempestade o sol brilha”, concluiu Ketleyn Quadros.