SOS RS - O espírito olímpico em sua essência
Judocas brasileiros ajudam a salvar vítimas de maior catástrofe climática que destruiu o Rio Grande do Sul
Na última semana, o estado do Rio Grande do Sul, na região Sul do Brasil, foi atingido por fortes chuvas que causaram a maior enchente da história na região, afetando mais de 1,4 milhão de pessoas e deixando cerca de 232 mil pessoas fora de casa, além de 107 mortos e mais de 300 feridos até o momento de acordo com dados oficiais.
Diversas cidades estão há quase uma semana submersas com a água chegando a 5 metros de altura, estradas foram destruídas e o aeroporto Salgado Filho, na capital Porto Alegre, está fechado desde segunda-feira, 06. Os impactos diretos passam por uma crise no abastecimento de água potável, energia elétrica e alimentos, além de milhares de pessoas que perderam suas casas.
Em meio a tanta tragédia, o Brasil inteiro se comoveu com a situação e uma onda de solidariedade fez chegar ao Rio Grande do Sul toneladas de doações de roupas, alimentos, materiais de higiene e limpeza para amenizar o sofrimento daqueles que perderam tudo nos alagamentos.
A população gaúcha que conseguiu escapar do dilúvio está desde o início somando forças com as autoridades locais, tripulando barcos e motos aquáticas para ajudar no resgate de quem não conseguiu sair de casa. Outros se apresentaram em abrigos para ajudar na coleta e distribuição de donativos.
Na capital Porto Alegre, o time de voluntários tem contado com o reforço de diversos atletas gaúchos, entre eles, os judocas da seleção brasileira Alexia Castilhos, Eric Takabakate, Daniel Cargnin, Mayra Aguiar, Gabriel Genro, Jéssica Lima, Leonardo Gonçalves e muitos outros.
Alexia, Eric, Daniel e Gabriel já arrecadaram fundos por meio de campanhas de crowdfunding (“vaquinha” online) e estão comprando suprimentos para quem está nos abrigos e na linha de frente dos resgates.
“Minha casa não foi atingida, mas o bairro inteiro foi invadido pela água. Ficamos sem água potável, sem luz, sem sinal de celular por três dias”, conta Aléxia. “A água chegou até o final de um viaduto que fica ao lado da minha casa. Então, os resgates começaram por ali, montaram um QG para prestar os primeiros socorros e encaminhar as pessoas aos abrigos. Estava chegando muita gente, muitos animais resgatados e não tinha estrutura tipo água, isotônico, comida para quem chegava. E foi nisso que a gente foi ajudar. Os voluntários que ficam nas tendas vão passando o que precisam de imediato e eu, meu irmão e o Eric vamos atrás. Precisaram, por exemplo, de um alicate para arrombar porta para resgatar alguém, de remos para os barcos que ficaram sem combustível, pomada para assadura dos voluntários que estão na água, enfim, pedidos inusitados, mas emergenciais.”
Os clubes Grêmio Náutico União e Sogipa, onde diversos atletas treinavam diariamente, abriram seus ginásios para receber desabrigados e doações, tornando-se importantes centros de apoio às vítimas.
É no pátio da Sogipa que atletas e ex-atletas, como os campeões mundiais João Derly e Mayra Aguiar, têm passado os dias descarregando caminhões com toneladas de água e alimentos doados pelo Brasil inteiro.
“Nosso trabalho tem sido de receber e direcionar várias doações a abrigos, cozinhas que estão assistindo tanto os voluntários, quanto as pessoas que estão abrigadas não só em Porto Alegre, como na região metropolitana. Canoas foi devastada, Eldorado, Guaíba. E agora estamos estendendo para regiões mais distantes, como Lajeado, Estrela, Arroio do Meio que também foram destruídas, o rio passou no meio da cidade. No meio disso tudo os atletas ainda treinam judô pois tem o Mundial. Depois que terminam, voltam para ajudar. Eu estou bem orgulhoso dos judocas. É a Federação, atletas da base, do alto rendimento, todo mundo doando seja trabalho, acolhendo, abraço, chorando junto. É bem cansativo, mas quando a gente pensa nas pessoas que estão sofrendo com isso dá uma renovada na energia para que a gente continue ajudando os necessitados”, relatou o bicampeão mundial João Derly.
O trabalho segue ainda em cidades do interior que também foram atingidas pelas inundações. Em Novo Hamburgo, a professora de judô e ex-atleta da seleção Rafaela Nitz conseguiu organizar uma cozinha comunitária com voluntários que têm produzido mais de 3 mil marmitas diariamente.
Canoas, cidade natal de Daniel Cargnin e da luso-brasileira Rochele Nunes, foi uma das mais afetadas pelos alagamentos. Em suas redes sociais, Rochele, que vive em Portugal, relatou que sua mãe perdeu a casa onde morava. Junto à comunidade brasileira em Portugal, ela também está arrecadando doações para enviar ao Brasil.
O treinador da seleção brasileira, Douglas Potrich, está abrigando 35 pessoas no dojô da Kiai, sua academia de judô, e arrecadando fundos para a reconstrução de casas.
Enfim, são inúmeros os exemplos de solidariedade e engajamento do povo gaúcho.
A reconstrução por meio do esporte
Pensando nos dojôs perdidos, a Federação Gaúcha de Judô abriu campanha de financiamento colaborativo para arrecadar fundos e direcioná-los para a reconstrução de academias e associações de judô quando a água baixar.
Além disso, os professores da Federação Gaúcha de Judô têm oferecido aulas gratuitas de judô às crianças que ficaram alojadas no ginásio do seu centro de treinamento esportivo. Uma forma de aliviar o estresse e iniciar a reconstrução da vida por meio do esporte.
“Colocamos o judô à disposição neste cronograma de atividades esportivas que vão ocorrer no CETE ao longo deste período. Tão logo este movimento aconteceu, outras modalidades também se dispuseram a participar”, destacou Luiz Bayard, presidente da FGJ. .
Uma rota de saída
Em meio a tudo isso, os atletas ainda precisam se manter em condições para a reta final de preparação para o Campeonato Mundial, daqui a dez dias, e para os Jogos Olímpicos, em menos de 100 dias. Grande parte da seleção brasileira de judô mora em Porto Alegre - Jéssica Lima, Ketleyn Quadros, Mayra Aguiar, Daniel Cargnin, Rafael Macedo e Leonardo Gonçalves - e a CBJ vem monitorando a situação deles e viabilizando a logística para conseguirem viajar às competições.
Com o aeroporto fechado por tempo indeterminado e diversas estradas interrompidas por desabamentos e inundações, restou apenas uma rota de saída do Rio Grande do Sul e é por ela que os judocas passarão.
Na terça-feira, Ketleyn Quadros e Rafael Macedo percorreram quase 500km de carro - sete horas de estrada, aproximadamente - até a cidade de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, onde conseguiram voar até São Paulo para seguir rumo ao Cazaquistão, onde lutarão o Grand Slam de Astana, neste final de semana. Na próxima semana, os demais judocas farão o mesmo trajeto para chegarem ao Mundial, em Abu Dhabi.
Independentemente dos resultados no tatame, eles já são todos grandes campeões e entenderam exatamente o significado de espírito olímpico.
PARA DOAÇÕES:
FGJ
Chave PIX: 89.270.888/0001-96 (indicar transação como SOS JudoRS)
SOGIPA
Chave PIX: financeiro@sogipa.com.br
GRÊMIO NÁUTICO UNIÃO
Chave PIx: doacao@gnu.com.br
Informações sobre como doar aos judocas voluntários:
Aléxia Castilhos/Eric Takabatake: @alexiacastilhos (Instagram)
Daniel Cargnin: @dadscargnin (Instagram)
Douglas Potrich: @douglaspotrich (Instagram)
Gabriel Genro: @gabrielgenro (Instagram)
Rafaela Nitz: @rafaelanitz (Instagram)